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domingo, 29 de novembro de 2009

Produtoras contratadas pela Empetur em nada parecem com sede de empresas


Com as denúncias de deputados de oposição – indicando superfaturamento de cachês pagos em shows promovidos pela Empresa Pernambucana de Turismo (Empetur) – o elo entre governo e artistas não havia se pronunciado: os produtores dos eventos. Ontem, o JC procurou quatro das nove produtoras contratadas pela Empetur. E o que verificou põe em dúvida a capacidade delas em promover eventos de grande porte.
No lugar de escritórios, salas vazias e residências modestas. Estruturas que nada lembram locais de trabalho envolvendo cifras milionárias e empresários exclusivos de bandas e artistas. Juntas, elas movimentaram R$ 2,3 milhões, segundo dados preliminares da Empetur (veja quadro nesta página).
Uma das principais empresas envolvidas em denúncias, a Walter Shows funciona no 12º andar do Empresarial Santo Antônio, em Boa Viagem, segundo a Receita Federal. No local, entretanto, mais mistério. É natural que uma empresa que num período de um mês movimenta R$ 1,142 milhão apenas com contratos com o governo e produz 17 shows no interior do Estado no mesmo período possua estrutura administrativa ao menos razoável.
No local, porém, portas trancadas e vidro fumê. Também não há placa indicativa na fachada. De acordo com vizinhos, cerca de quatro pessoas são frequentemente vistas no local. “Elas devem ter saído para almoçar”, afirmou uma lojista que preferiu não se identificar. O JC visitou o prédio no período da tarde.
A reportagem também foi ao endereço da MR Promoções e Eventos fornecido pela Receita, no Centro do Cabo de Santo Agostinho: um prédio comercial ao lado da prefeitura. Na chegada à sala, no primeiro andar, um forte cheiro de produto de limpeza denunciava que o local havia sido limpado há pouco. “Vieram aqui hoje de manhã e limparam tudo às pressas”, confirmou uma pessoa que trabalha em uma casa comercial próxima.
“Essa sala sempre ficou fechada”, acrescentou, pedindo anonimato. A reportagem encontrou a sala, de cerca de 30 metros quadrados, vazia e com a janela aberta. A contadora da empresa, que trabalha no prédio vizinho, informou que a responsável por ela trabalha no Recife. “Aqui é só o domicílio fiscal”, explicou. A empresa recebeu R$ 621 mil por dez shows.
A Yavé Shamá, que recebeu R$ 374 mil por seis shows, tem endereço também no Centro do Cabo. No local, uma residência simples com uma porta de entrada e outra de garagem. Ao chegar, a equipe do JC foi informada que a dona da casa havia saído. Duas pessoas que trabalham na vizinhança, sob anonimato, informaram que nunca tiveram notícias de que lá funcionava uma produtora. “Aqui (na garagem) já funcionou uma distribuidora de gás. Mas hoje em dia só vive fechado”, enfatizou uma delas.
No final da tarde, entrou em contato com o JC uma pessoa de nome Marcos, se dizendo filho da dona da casa, assegurando que a garagem havia sido alugada “há uns seis meses” para a empresa. E ele garantiu que o escritório abre todos os dias. “Só hoje (ontem), não sei porque, não abriu”, disse. Logo em seguida, ligou uma pessoa que se identificou como Sônia, se dizendo irmã da proprietária da Yavé Shamá, Simone Cibelle da Silva Sousa. Ela reforçou que a empresa funciona regularmente, mas disse não saber onde se encontrava a irmã nem o número do celular dela.
A sede da R.I.K. Produções e Eventos funciona numa residência na Tamarineira. No local, apenas a empregada doméstica e alguns pedreiros. De acordo com eles, o dono do imóvel “mexe com shows”, mas não estava em casa. A empresa produziu seis shows ao custo de R$ 172,7 mil. Até o fechamento desta edição, a reportagem ainda não havia obtido sucesso no contato com o empresário.

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